quarta-feira, 17 de junho de 2009

BRIC's são segunda divisão no jogo global.


A coincidência entre a cúpula dos Brics e o plano Obama de regulação dos mercados financeiros é uma perfeita radiografia do jogo mundial de poder no momento e no futuro imediato.
O que vão discutir os Brics? Acima de tudo, a economia mundial e sua crise, até porque economia é o único amálgama entre países que não têm laços históricos, culturais ou geográficos -usualmente os motivos que levam a criar um bloco.
No caso dos Brics, ironiza o "Financial Times" de ontem, "é certamente o primeiro bloco multilateral de nações a ser criado por analistas de pesquisas de um banco de investimento e sua equipe de vendas" (alusão ao fato de que o acrônimo foi inventado por um economista da Goldman Sachs, aliás uma das instituições dos "brancos de olhos azuis" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva culpou pela crise).
Se os Brics serão as potências mundiais do futuro, então o líder da potência do presente, Barack Obama, deveria aguardar o que eles têm a dizer sobre a crise e sobre como evitar que se repita no futuro, certo?
Errado. Barack Obama já tomou, unilateralmente, todas as medidas para enfrentar a crise e já preparou, sem nem ouvir nem cheirar os Brics e sua cúpula, o pacote de regulação do seu próprio sistema financeiro.
Posto de outra forma: os Brics podem até vir a ser as potências do futuro, mas, no momento, representam, todos somados, apenas 15% da economia mundial. Ou dito de uma segunda outra forma: o que a Goldman Sachs fez foi antever MERCADOS emergentes, nos quais os investidores poderiam fazer gordos lucros, mas não PAÍSES de fato capazes por ora de ditar os rumos do planeta ou ao menos influir poderosamente neles.
Aliás, a Europa também não esperou nem consultou os Brics para anunciar seu próprio pacote de regulação, cuja aprovação final se dará neste mês.
Pior: nem Estados Unidos nem Europa agiram no marco do G20, o clubão das 20 maiores economias do mundo, do qual fazem parte todos os Brics. O G20 seria, portanto, o marco ideal para que os Brics exercitassem seus músculos.
No entanto, como reconhece -e lamenta- o próprio governo brasileiro, o G20 não tem um programa próprio de trabalho. Parou na cúpula de abril. A partir dela, foi cada um por si, sem a coordenação que se desejava e que, se de fato praticada, levaria a transformar o grupo no novo gerente informal da economia global, suplantando o G8, no qual só a Rússia está presente, entre os Brics.
O chanceler Celso Amorim pode dar por morto o G8, como o fez nesta semana, mas, no mínimo, no mínimo, o grupo restrito dos países ricos (mais Rússia) continua dando seus solavancos -e sem os seis países que participarão da cúpula do G8 ampliada (todos os outros três Brics entre eles).
Já houve uma reunião de ministros de Economia, que discutiu a crise. Haverá no fim do mês uma reunião de ministros do Exterior, para discutir as outras crises, economia à parte, sem que os ministros brasileiros ou dos outros Brics (Rússia à parte) fossem convidados.
Parece claro que, embora os Brics tenham, em uma década, pulado de 7,5% da economia mundial para 15%, ainda têm uma árdua batalha para passar da segunda para a primeira divisão no jogo global de poder.
Texto: Clovis Rossi para a Folha de São Paulo

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