segunda-feira, 24 de maio de 2010

O maior fiasco da diplomacia brasileira


Ao intermediar um acordo com o Irã na área de energia nuclear, o Brasil assumiu um risco que pode trazer consequências desfavoráveis para um país que se coloca como "conciliador" no cenário internacional, segundo a análise feita por especialistas. O problema apontado por eles é o considerado "fracasso" do acordo que, mal foi assinado, acabou rebatido pela afirmação iraniana de que continuaria a enriquecer urânio e pela declaração americana de que sanções contra o Irã continuavam sendo negociadas.

"O Brasil poderia ter assumido uma postura mais cautelosa, sem essa exposição toda. E, depois do resultado pífio, deveria ter humildade para reconhecer que tentou fazer o que podia, sem esconder o fracasso, sem insistir em um resultado positivo de um acordo que não vai valer", afirmou o cientista político Samuel Feldberg. "Isso desqualifica o Brasil como intermediário, como possível mediador para próximos conflitos. O País queimou cartucho".

"Nunca houve na diplomacia brasileira um fracasso como este. É um resultado tão desastroso que duvido que se repita", disse José Augusto Guilhon Albuquerque, do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. "Eu desejo de que seja assim, porque vai ser muito grave se não se aprender nada depois disso".

Os dois especialistas da USP são céticos sobre a postura iraniana a respeito de seu programa nuclear e criticam o fato de o Brasil ter abandonado a neutralidade no episódio. "O Brasil fez coisa semelhante na questão de Honduras, no conflito entre Equador e Colômbia e agora: adotou um lado. Como pode resolver um conflito se adota um dos lados?", questiona Guilhon.

Na opinião de Feldberg, ao apoiar o Irã na mediação, o Brasil passa uma mensagem equivocada, assumindo uma postura maniqueísta. "De certa forma, o Brasil está dizendo que o Irã e nós somos os mesmos atores de um cenário dominado pelas mesmas potências, sem diferenciar que o Brasil é um jogador honesto e o Irã, não", afirmou.

Para Feldberg, o País não podia ter se comprometido com a causa iraniana a ponto de sair prejudicado da situação. "O Brasil pode estar numa posição privilegiada hoje, mas ainda somo um país marginal. Não temos por que competir com as grandes potências", afirmou.

"O Brasil tem seu próprio programa nuclear, faz enriquecimento de urânio, mas abandonou seu programa nuclear para fins militares há muito tempo. De alguma forma, isso cola em uma necessidade brasileira de deixar muito claro o seu direito de enriquecer urânio e de se comportar nesse meio com independência", disse.

Feldberg não acredita numa guerra nuclear, mas diz que a simples posse de armamentos nucleares pode causar desequilíbrio no Oriente Médio. "Certamente vamos ver países ricos que podem se dar ao luxo de entrar nesse processo tentando adquirir armas nucleares, como Arábia Saudita e Egito. O que o Hezbollah pode fazer no futuro, contando com esse 'guarda-chuva' nuclear é muito mais do que foi feito no conflito de 2006", afirmou.

O professor de direito internacional da Universidade de Brasília Marcio Garcia também é cético sobre os resultados da ação diplomática brasileira no Irã. Ele disse ter dúvidas "se o País está maduro o suficiente no cenário internacional para participar desse plano".

fonte: Portal Terra.com

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