sábado, 5 de junho de 2010

A parte boa do PMDB não apoiará Dilma.


O senador Pedro Simon (PMDB) protocolou há pouco na liderança do partido no Senado a candidatura do ex-governador do Paraná Roberto Requião à Presidência da República. Com o aval de Requião em papel timbrado do PMDB paranaense, Simon enviou cópia do requerimento ao presidente nacional do PMDB da Câmara, Michel Temer (PMDB), comunicando o pleito de candidatura própria.

O protocolo é, na verdade, um recado claro ao Planalto de que parcela do PMDB não avaliza a indicação de Temer como vice na chapa petista. O documento seguiu para a cúpula peemedebista no Congresso com carta em anexo entregue "em mãos" pelo filho de Requião, Maurício, autorizando o senador a "inscrever e sustentar" sua indicação, que será apreciada em convenção nacional, no próximo dia 12. O requerimento com o pleito de candidatura própria chegou às mãos de Temer "em nome da vontade soberana da grande maioria dos filiados do partido", segundo consulta realizada pela Fundação Ulysses Guimarães e durante o mais recente congresso estadual da legenda, em 31 de janeiro.

O lançamento da candidatura por Simon expõe a tendência de uma dissidência no PMDB com relação ao apoio à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Mais uma vez, o partido irá dividido para uma eleição presidencial. No episódio mais grave, em 1998, a divisão foi tão grande que o PMDB não teve candidato e nem apoiou qualquer nome para a Presidência.

Presidente da legenda no Rio Grande do Sul e um dos fundadores do partido, Simon disse, porém, ao Congresso em Foco que o lançamento de Requião para a disputa da candidatura própria não tem o objetivo de rachar o partido – que anunciou, em 18 de maio, o pré-lançamento de Temer como vice na chapa da candidata do PT à sucessão do presidente Lula.

"Hoje nós demos mais um passo. Só Deus sabe o que vai acontecer. Eu não tenho a mínima ideia", disse Simon, logo após o protocolo do requerimento e antes de ir ao plenário reforçar a decisão pelo sistema de comunicação do Senado. Aos 80 anos, o senador de longa trajetória política sabe que emplacar o nome de Requião no atual contexto de aliança entre PT e PMDB depende de inúmeros fatores - entre eles, principalmente, as coligações regionais.

"O problema está em Minas Gerais", disse Simon, referindo-se à pretensões do PMDB em emplacar o nome do ex-ministro de Comunicações e atual senador Hélio Costa - o que contraria em nível regional a aliança do partido com o PT, que deseja lançar o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel ao Palácio da Liberdade. Na hipótese de derrota da candidatura própria, ressalta Simon, Requião teria tempo hábil para tentar uma vaga no Senado pelo Paraná.

Dilma

Na entrevista concedida a este site, Simon ficou no limite entre as críticas sobre a relação PT-PMDB e as boas impressões (embora com restrições) a respeito da candidata petista - que nasceu em Minas Gerais, mas deu os primeiros passos na política do Rio Grande do Sul.

"O PT de Lula tirou do bolso um nome que não tem história, não tem biografia, coisa nenhuma. Eu acho que a Dilma é uma dupla militância, tem toda uma formação mineira. Mas não há como deixar de de reconhecer a trajetória dela no Rio Grande", disse Simon, que hoje (quarta, 2) fez em plenário discurso de mais de uma hora em homenagem aos cem anos de sua terra natal, Caxias do Sul.

Mas, depois de ressaltar a pouca experiência política de Dilma - que foi secretária de Minas e Energia do governo Olívio Dutra (PT), no Rio Grande do Sul (1999-2002), além de ministra de Minas e Energia e chefe da Casa Civil de Lula -, Simon disse que a presidenciável dispensaria mais atenção à região Sul do que fez o seu mentor político.

"A Dilma vai olhar o Rio Grande do Sul com mais carinho do que o Lula, que não fez nada pelo estado", reclamou o senador, que estendeu as críticas ao ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Conhecido por sua atuação independente em relação à orientação partidária - e, consequentemente, à aliança com a base governista no Congresso -, Simon voltou a criticar a cúpula do PMDB. O senador acredita que o partido faz jogo duplo ao vender apoio a Dilma, mas sem descartar oficialmente uma guinada e fechar, em nível nacional, uma aliança com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

"O problema é que o comando do partido insiste na tese de se manter no governo, não importa quem ganhar [Dilma ou seu adversário José Serra, do PSDB]. Eles não sabem se vão ficar com o PT ou com o PSDB. Ganhe quem ganhar, eles vão se enquadrar e não vão para a oposição", fustigou o parlamentar gaúcho, dizendo que "as mesmas pessoas de sempre" insistem em tornar a legenda - a maior na Câmara e no Senado e a que mais elegeu representantes nas eleições estaduais de outubro de 2008 - uma moeda de troca na indicação de cargos importantes do Executivo.

Simon citou nomes como o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o ex-presidente da Casa, Jader Barbalho (PA), como figuras centrais do que considera uma conduta partidária fisiológica. Para Simon, a intenção de candidatura de Requião representaria também uma medida de objeção a tal postura. "A maioria dessas pessoas sabe que, se Requião vencer, elas não terão cargo nenhum."

Fonte: Congresso em foco.

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