segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O ser humano, o leite em pó e o voto.


Opinião.
Estamos em um momento agudo em nossa história. Nunca tantas críticas e protestos contra os políticos foram tão intensas. É grito na Paulista, na Pampulha, nas praias do Rio, em Salvador, enfim, pipocam por aí gritos por moralidade, ética e respeito à cidadania.
Isso é bom e apóio integralmente.
Mas como é o ser humano?
Falamos e ouvimos falar que falta honestidade de políticos, juízes, policiais etc...
O status quo de tudo resume-se a: Quem tem poder e dinheiro é enamorado da corrupçào ou falta de ética.
Pois bem.
E os demais? E o povo? E quem grita?
Como seria a postura ética de quem combate ou critica a atuação das outras castas se eles tivessem oportunidade de se beneficiar de negocios não tão honestos?
Ví a poucas semanas atrás o CQC fazendo um "teste de honestidade" com pessoas "comuns". O repórter passava-se por cego e no ato do pagamento entregava ao vendedor (ambulantes) uma nota de R$ 50, mas ele dizia que estava dando uma nota de R$ 20. Muitos simplesmente devolveram o troco em cima dos R$ 20...tristeza demais.

Um fato.
Semana passada saindo do trabalho passei na farmácia para comprar um antigripal. Na porta da Droga Rais tinha uma criança, bem humilde, em esfarrapos, me olhou e disse:
- Tio, estou com fome, o senhor me compra uma comida ou leite para eu levar para casa?
Não sou mesmo de dar dinheiro nessas situações, me lembra muito o bolsa-família, sou contra dar por dar.
Mas naquela noite eu quis fazer diferente, comprei uma lata de leite em pó ninho, é bom produto, não estraga, dura mais que um sanduíche e tem um ótimo valor nutricional.
No caixa eu pedi para a atendente separar em dois volumes.
Feliz com aquela pequena boa ação, saí da farmácia e entreguei o leite para a criança, mas uma coisa ficou na minha cabeça:
A atendente viu que eu peguei a lata de leite em pó para dar para a criança, ela não disse nada quando eu estava pagando, mas olhou estranhamente para mim e isso eu percebi claramente.
Não era olhar de reprovação ou de admiraçào pelo ato, parecia um: "Não entra nessa moço, é roubada".
Depois de dar o saquinho com a lata de leite peguei o meu carro no estacionamento e dei uma volta no quarteirão e voltei ao local onde a criança estava.
Ela já tinha saído de lá, um minuto e um pouco de sorte ví o menino atravessando a alameda que liga o centro comercial para um ponto de ônibus.
Segui a criança por uns 5 minutos, até ver e nào acreditar que a criança vendeu para outra pessoa a lata que dei para ela minutos atrás.
Fiquei com muita raiva, quase parando o carro e pagando de volta a lata e dando um fim melhor. Pensando melhor ainda vejo que muita gente, nào importando a condição econômica, idade, classe social e região do país buscam beneficiar-se a qualquer custo.
Pode até ser que para uma criança de8 a 10 anos um doce tenha mais valor do que uma lata de leite em pó, e tenha sido este o destino daquele R$ 1 que vi ele receber. pode ser droga, pode ser até para a passagem de ônibus para ele voltar para casa, mas entre nós, era mais simples dizer a verdade, claro que não no caso da droga. Ele também sabia que se pedisse a qualquer um dinheiro para comprar um doce teria menos sucesso na empreitada.
É por isso que cada vez mais cresce a minha decepção com o ser humano, me parece que cada vez mais, muita gente grita, para ganhar a atenção do cidadão e conseguir assim um benefício direto para ele próprio.
No caso do garoto uma lata de ninho por outra coisa qualquer, e em alguns casos, líderes sociais, sindicais, jornalistas, radialistas, pastores, padres, empresários, policiais etc... se travestem como uma criança que pede, cada um ao seu modo, uma lata de leite em pó, e quando os damos eles o trocam por qualquer coisa para benefício próprio. É assim com o nosso voto, só que ele vale muito mais do que uma lata de leite em pó, muito mais.

Um comentário:

  1. Compartilho da sua indignação.
    Não são apenas nossos políticos que são desonestos,corruptos e individualista, mas toda a sociedade.
    Os pais não educam mais os filhos para serem honestos, porque eles próprios não são. Quando não os ensinam a serem desonestos, os abandonam à mercê da própria sorte.
    Nosso país precisa urgente de uma reforma política social e moral ou, logo não existirá mais amigos, parentes e nem família, cada um colocará uma arma na cintura e será um "salve-se quem puder".

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